A história completa da primeira Jornada!

Capítulo 1


DANDELION


Dandelion estava lutando.

As bebidas que ele tomara na noite anterior estavam pulsando em suas veias, prejudicando seus sentidos e dando uma dor de cabeça exorbitante. Seu bafo marcava o ritmo do seu tormento.

O bardo xingava furiosamente. Quando estava finalmente se sentindo melhor, a vodca resolveu sair por mal. Apesar de se esforçar muito, os lençóis se tornaram vítima da sua purificação. Ele xingou novamente, e, muito ofegante, deu um passo hesitante para longe da cama. E mais outro, apesar dos pés dançarem no chão, completamente desestabilizados. A sede atacou sua garganta.

Enquanto tentava econtrar um jarro d'água, ele se esforçava para lembrar da noite anterior.

O festival de primavera, a tradição de uma era roubada dos elfos, foi o maior destaque de Guleta. Era uma celebração pomposa com quantidades inimagináveis de bebida e comida, mas, mesmo assim, faltava um entretenimento refinado. Isso até o prefeito local decidir contratar um jovem poeta devido aos famosos talentos...

O preço era baixo, pensou Dandelion, lambendo as últimas gotas d'água na boca do jarro.

Baixo demais.


GERALT


Geralt estava lutando.

As poções que ele bebeu na noite anterior pulsavam em suas veias, aguçando seus sentidos. O ar úmido entrou em seus pulmões. Sua respiração marcava a cadência dos seus golpes.

O bruxo xingava com raiva. Quando finalmente conseguiu golpear a carne entre as escamas, a criatura ferida se escondeu debaixo d'água. Ela conseguiu se esconder mesmo apesar do seu tamanho. Ele xingou novamente enquanto ofegava, dando um passo hesitante à frente. Seguido de outro. Suas pernas se prenderam na lama grossa, deixando o bruxo todo arrepiado. Algo escorregadio entrou em sua bota. Ele mal conseguiu se virar, quando a superfície da água negra espirrou logo atrás das suas costas.

A wipper gigante, certamente tão velha quanto os pântanos dos arredores, espreitava por Guleta por anos. Por anos ela matou, ganhando gordura e escamas rígidas que cobriam seu corpo. Até o prefeito local oferecer um prêmio para quem a matasse…

“O prêmio não vale a pena”, pensou Geralt enquanto se esquivava de um jato de veneno cáustico.

Não vale mesmo.


Capítulo 2


DANDELION


Ao ver a bagunça monstruosa, a filha do prefeito virou a cara em abominação. Mesmo assim, ela entrou na câmara em que o pai havia colocado o hóspede. Ela parou após chegar na cama e lançou um olhar mal-encarado em Dandelion.

Ele estava acostumado com este tipo de olhar após testemunharem tal façanha. Noentanto, isso não o impediu de lançar um sorriso deveras encantador. Na verdade, seria difícil encontrar um sorriso mais desarmante do que o de Dandelion.

No entanto, a filha do prefeito suspirou sem mostrar um único sinal de admiração.

Nossa, ela até mostrou uma certa frigidez enquanto cortava direto para o assunto da sua apresentação no festival de primavera. Ela falou que não deveria faltar poesias e cações — e que sua juventide e, na humilde opinião dela, talento questionável não eram desculpas para fracassar.

Dandelion olhou para os seus modestos seios e logo começou a compor uma balada cáustica.

Seu sorriso foi de orelha a orelha.


GERALT


Ao ver a aberração que era o troféu, o prefeitou se embrulhou em abominação. No entanto, ele espiou curiosamente na mandíbula estupefata e tentou contar os dentes da wipper. Ele desistiu depois de chegar na casa dos trinta, e lançou um olhar significativo a Geralt.

O bruxo deu de ombros. As autoridades tinham uma tendência de fugir do pagamento enquanto não houvesse uma prova de que o trabalho havia sido concluído. No entanto, seria muito difícil encontrar uma prova mais convincente do que a cabeça de uma wipper na mesa da autoridade.

Logo, o prefeito de Guleta pagou devidamente.

Na verdade, ele até demonstrou uma certa hospitalidade com o bruxo, convidando-o para o festival de primavera. As ruas estariam repletas de álcool e carne sem fim. Além disso, um jovem poeta estava propramado para se apresentar. O prefeito então insistiu “Relaxe, aproveite a nossa cultura!”

Geralt olhou para a cabeça ensanguentada, que já havia infestado o escritório do prefeito com o seu fedor.

E ele deu de ombros.


Capítulo 3


DANDELION


Após chegar na praça do mercado, Dandelion foi diretamente para o palco com os músicos, preparado para o espetáculo. Para recompensar o atraso, ele começou a tocar seu alaúde, dando um início não muoto convencional à apresentação. A comerciante, pela qual ele passou, não se importou de encará-lo pela segunda vez.

O mesmo não se podia falar dos transeuntes perto do palco.

Sussurros empolgados começaram e as pessoas abriram caminho. Até um rapaz de cabelos grisalhos, que o bardo identificou como um bruxo, abriu alas respeitosamente. Os habitantes de Guleta sabiam como reconhecer um virtuoso, mesmo antes de escutá-lo! Que maravilha! E, assim, Dandelion se curvou diante de todos, varrendo as pedras com a pena de garça do seu chapéu.

Em seguida, ele atendeu o pedido silencioso da multidão.

Ele deslizou os dedos pelas cordas do alaúde. Seus passos e sua melodia eram encantadores. No fim, ficou evidente que foi a voz que ganhou o coração da plateia. Após a performance, ele viu que conseguiu fazer o impossível.

Havia até um bruxo com lágrimas em seus olhos, evidentemente comovido pela poesia.


GERALT


Após chegar na praça do mercado, Geralt não foi diretamente para o palco. Primeiro, para fazer se divertir, ele foi atrás das necessidades: um garrafão de vodca e um anel de linguiça. A comerciante robusta, que vendeu as mercadorias, nem se deu o trabalho de olhar para ele duas vezes.

Uma grande exceção.

Sussurros começaram e as pessoas se afastaram. Algumas olhavam sem conseguir esconder o medo, outras berravam descaradamente para o bruxo grisalho. Geralt ignorou todos eles, tomando calmamente os seus goles do garrafão e comendo a linguiça gordurosa.

Em seguida, o som do alaúde chamou a atenção da multidão.

A música fluiu por toda a prefeitura e, quem quer que estivesse tocado, estava claramente de ressaca, pois não estava exatamente rítmico. No entanto, quando começou a cantar, sua voz acabou sendo muito agradável... e a música em si — chamada de “Balada das Duas Tetinhas” — apesar de rústica, era razoavelmente divertida. Por conta disso, após a performance, Geralt achou que o passeio gastronômico acabou sendo mais memorável do que o artístico.

O último gole de vodca deixou lágrimas em seus olhos.


Capítulo 4


DANDELION


A música estimula os sentidos das pessoas. O bardo era bom com rimas, sabia como cantar e adorava as curvas femininas... nossa, ele deveria ser um rapaz desejado. Ah, e como as acompanhantes mostravam suas cartas na manga... Deixando a atmosfera tão quente que até vodca não mataria a sede.

Apesar de Dandelion não ser do tipo que participava de festividades, ele permaneceu para acompanhar uma das habitantes animadas de Guleta. Ele sentiu prazer. Um que não sentia há muito, desde aquela manhã.

Foi quando ele ouviu um grito. E todo o prazer voltou direto para o inferno.

O bardo estava debaixo do palco – e da acompanhante – com sua… “espada” para fora. Felizmente, ele conseguiu embainhar a lâmina antes dos agressores armados entrarem no esconderijo. E, quando começaram a atacar, Dandelion não recuou e defendeu sua escolhida. Ele fingiu ser um indefeso para que os marmanjos abaixassem a guarda, permitindo que ele atacasse no momento oportuno. Um bruxo familiar rapidamente se juntou, com uma intenção clara de resgatar seu músico favorito. Dois heróis destemidos alguns bandidos de esquina.

Dandelion gostou das chances que tinha.


GERALT


É possível admitir que a música acalma até as feras mais selvagens. Aqueles que julgaram Geralt anteriormente agora estavam se juntando e bebendo e comendo com ele. Isso, junto com a música vívida tocando e as pessoas dançando, levantou o ânimo dele — é, ele deve ser um bom rapaz.

Apesar de Geralt não participar das festividades, ele permaneceu lá, assistindo os habitantes felizes e cambaleantes de Guleta. Ele se sentiu feliz. Feliz como não havia se sentido por anos. Uma felicidade que havia esquecido há muito tempo…

Quando ele ouviu um grito. E toda essa felicidade foi para o inferno.

Os sentidos do bruxo mostraram que havia um tumulto debaixo do palco. Ele correu com a espada empunhada, apenas para guardá-la logo em seguida ao ver a cena. Eles pegaram a vítima aterrorizada: o jovem bardo que finalmente parecia ter se recuperado da noite anterior. Eles o balançaram violentamente com as próprias mãos, preparados para golpeá-lo. Por trás dele, uma acompanhante jovem estava berrando aos montes, seminua e desarmada, sem ter muito sucesso enquanto tentava apartar a briga. Era uma simples equação. Quatro marmanjos contra um homem encurralado, claramente incapaz de se defender.

Geralt decidiu equilibrar o jogo.


Capítulo 5


DANDELION


Quando a situação estava sob controle, Dandelion deu um beijo na acompanhante resgatada e seguiu seu caminho no meio da multidão. Ele não se despediu do bruxo, pois homens não precisam de palavras em tais situações. Mas, logo depois, o bardo observou que estava sendo seguido e virou instantaneamente, esticando a mão para o homem atrás dele.

O bruxo retornou o gesto um pouco incomodado, segurando a manga em vez da mão. Intimidado com sua genialidade, ele mal conseguiu falar, mas estava claro que queria conversar. Só depois de alguns momentos que ele lembrou da educação e se apresentou como Geralt de Rívia. Ele não falou em voz alta, mas estava mais do que evidente que ele precisava de companhia. O trabalho de um bruxo só podia ser solitário, com o seu cavalo sendo a única companhia provável… Então Dandelion sugeriu que os dois fossem para um lugar mais calmo: um bordel famoso com uma ótima cozinha. Por motivos de aparência, é claro, ele usou uma desculpa tosca para ir até lá. Mas, na verdade, era apenas um ato de benevolência.

Assim, eles partiram juntos.

O bardo e o bruxo.


GERALT


Quando os agressores foram derrubados e a acompanhante se cobriu, Geralt percebeu que faltava alguma coisa. O poeta havia desaparecido. Bem suspeito, pensou o bruxo. O tão “belo propagador de cultura” fugiu cedo demais. E se ele estivesse se sentindo culpado? Será que fez algo que faria essa situação parecer outra coisa, bem menos injusta? Felizmente, ele não foi muito longe. Geralt percebeu ele ainda na multidão, perto do palco. Assim como fez os bandidos, ele puxou o bardo pela roupa colorida. O jovem se assustou no começo, mas rapidamente se recompôs. Segurando seu chapéu com uma pena de garça, ele se curvou educadamente, cumprimentando-se como Dandelion. Ele prometeu responder a qualquer dúvida em um local mais seguro. Ele até sabia do lugar perfeito: um bordel onde convenientemente havia deixado os pertences na noite anterior. Com os berros vindo da direção do palco, era evidente que ele precisava desesperadamente de ajuda.

E, juntos, eles partiram.

O bardo e o bruxo.


Capítulo 6


DANDELION


Ao chegar na porta da “Pequena Flor”, Dandelion chegou à conclusão de que os assaltantes mandaram algum concorrente invejoso. Ele vasculhou as suas memórias e lembrou-se de um homem de Cidaris que havia invejado o seu talento. Aquele covarde maldito se talento! Ele teria que ser um baita de um imbecil para mandar capangas contratados para matar o poeta mais capaz. Dandelion simplesmente não permitiria em boa consciência uma audácia dessas passar despercebida. Ele tinha que partir imediatamente para buscar justiça.

No entanto, a vingança teria de esperar, pois o bardo tinha um bruxo para entreter.

Geralt, alheio a sua grosseria, parecia fascinado com a dona de seios enormes. Dandelion se perguntava quando o mutante se deliciou pela última vez... mas decidiu não seguir essa linha de pensamento. Determinado a fazer o possível com a situação, ele pediu a uma adorável garçonete algumas delícias que faziam daquele estabelecimento um local tão famoso. O bardo não economizou com o seu novo amigo, pedindo uma quantidade incrível da vodca mais refinada. Em troca, ele apenas queria que o bruxo se abrisse e conversasse mais.

Bom...

Ele não conversou.

Com o tempo, no entanto, o bardo teve que admitir que Geralt era uma companhia bastante incrível, principalmente depois de virar algumas doses. Dandelion até conseguiu descobrir o nome completo dele, que era Geralt Roger Eryk de Haute-Bellegarde.

Pois é.


GERALT


Não foi nada surpreendente para Geralt que a madame que cuidava de “A Pequena Flor” já estava bem-informada sobre a situação. Os rumores, junto com outras coisas desagradáveis, tendiam a se espalhar rápida e facilmente em tais estabelecimentos. Ela revelou a ele que a dama recém-deflorada por Dandelion era a irmã mais jovem de quatro irmãos superprotetores. Para piorar a situação, ela foi desposada a um comerciante rico, porém extremamente desagradável. Uma união que sua família precisava desesperadamente, ela confirmou. Caso encerrado, pensou Geralt. Agora ele podia partir com a consciência limpa.

Entretanto, Dandelion, feliz e aparentemente sem preocupações, mostrou uma tremenda falta de entendimento sobre a sua situação complicada. O poeta, que aparentemente havia acabado de sair de um devaneio, pediu duas porções de grumos com cebola e uma garrafa de aguardente bastante forte. “O mais barato o possível”, murmurou o bardo enquanto bufava e jogava a última moeda da sua bolsa. Assim, Geralt apreciou a refeição e o acalento mais ainda. Ele só queria que Dandelion parasse de falar tanto assim... pelo menos enquanto desfrutava da ceia.

Bom...

Ele não parou.

Com o tempo, no entanto, o bruxo teve que admitir que não estava tão indignado assim com a tagarelice incessante, principalmente depois de virar algumas doses. O bardo até havia ensinado a ele uma música sobre damas... de Vicavaro? Vicovoro?

Algo nessa linha.


Capítulo 7


DANDELION


Os dois foram puxados pela mão e pressionados contra a parede. Foi bastante agradável... até as cortesãs desaparecerem abruptamente, deixando-os no escuro.

Dandelion aguardou até que a escuridão sumisse e o chão parasse de balançar. As mulheres não tiveram misericórdia. Como elas puderam deixá-los naquela situação? Depois das carícias e risadas? Ele estava disposto a apostar o próprio alaúde, achando que as cortesãs planejaram cobrar pelos serviços que que não aconteceram... Bom, pelo menos, elas deixaram a bebida.

Dandelion levantou uma garrafa, que acabou caindo da sua mão por conta própria. Enquanto isso, Geralt murmurou algumas palavras. Primeiro, algo sobre gritaria. Em seguida, sobre pagar pelo vinho que o bardo havia pegado. Talvez fosse um tipo de hábito profissional... procurar problemas onde eles não existem. Onde estavam agora...? Enfim, não importava. Para Dandelion, essa conversa fiada parecia ser nada mais do que uma perda de tempo. Ele era um poeta de ação, não de palavras. Portanto, ele disse para Geralt fazer alguma coisa útil! Procurar uma forma de sair daquela droga de lugar ou pelo menos beber um pouco mais. No entanto, o puritano murmurou ainda mais. Quem imaginaria que um bruxo teria impulsos tão moralizantes, isso sem falar na consciência?

Bom, Dandelion não quis discutir com ele, pois estava muito sóbrio para debater sobre a relatividade moral de suas ações. Portanto, ele desistiu e preparou um pagamento generoso para os serviços fornecidos pela “Pequena Flor”.


GERALT


Dois irmãos passaram pela porta da frente, enquanto os outros dois entraram abruptamente pelos fundos. Apenas o sótão estava seguro, então, com a ajuda de algumas cortesãs, eles rapidamente despistaram os perseguidores.

Geralt observou enquanto quatro pres de sapato se movimentavam no andar acima. As vozes enfurecidas dos quatro irmãos, vasculhando o bordel, era evidente no sótão. O bruxo não tinha desejo nenhum de lutar mais uma vez, e Dandelion ... Dandelion estava perplexo enquanto examinava a estante de vinhos.

Roubo parecia ser uma forma miserável de agradecer pela ajuda oferecida, algo que Geralt se sentiu na obrigação de alertar. Enfurecido, Dandelion murmurou com raiva que nunca havia roubado ninguém, mas que simplesmente havia feito uma compra. A culpa não era dele se as condições atuais impossibilitavam o pagamento! No entanto, ele guardou a garrafa e retirou alguns instrumentos de escrita de sua bolsa. Geralt observou silenciosamente enquanto o bardo escrevia uma música que supostamente obrigaria o prefeito de Gulet a acertar as contas. O poeta declarou que não havia recebido o último pagamento de sua apresentação e, bom... que provavelmente não deveria esperar as moedas naquele momento, certo? O melhor seria gastar no vinho que já estava ao dispor.

O bruxo achou impossível argumentar contra tal lógica, principalmente porque estava com dificuldade para se concentrar. Portanto, após concordar, ele pegou outra garrafa da estante.


Capítulo 8


DANDELION


Ha! Dandelion gritou em animação, vendo uma luz naquele buraco de... Espera, onde eles estavam? Não importava. O bruxo só estava pensando em escapar, claramente ignorando algo ainda mais importante: a necessidade de mais vinho.

Mesmo assim, essa luz era uma saída, correto? Apesar de ser estranha. Lá no alto, sem escada... Barras em vez de portas? Mas que merda de... Pelos Deuses e sua mãe virgem, o que era aquilo?! O bardo balançou a cabeça. Um golpe súbito fez com que ele caísse e, pior ainda, ficasse um pouco mais sóbrio. Segundos depois, o chão trocou de lugar com o teto novamente. Alguém... o Geralt, talvez... jogou o poeta como um saco de trigo. “Ai!”, berrou ele, caindo em pedras duras. É… ele olhou para baixo. Sim! A última garrafa de vinho ainda estava por ali. Ele havia guardado! Ah, que belo ato heroico! E um ótimo material para uma balada, o poeta tinha toda certeza, pois pretendia escrever naquele momento. E iria até difamar aquele maldito de Cidaris na canção! Haha!

Ele imediatamente compartilhou o pensamento com Geralt. E o bruxo riu! Dandelion não conseguia acreditar no que ouvia. O caso era sério — fatalmente sério — e aquele maldito estava rindo, como uma madame deflorada por… “Espere um pouco”, pensou o bardo. Ele começou a cantarolar a melodia da música que havia cantado no palco durante o dia. Debaixo do palco…? “Bruxo, cante comigo”, ele pediu aos berros! Talvez nos ajude a lembrar...

Nem fodendo, sério?! Nãoooo…. porra? Como pode, Geralt? Que falta de respeito... E eu compartilhei o meu vinho com você, revelei meus segredos. Puta que pariu, eu até amei você como um irmão!


GERALT


“Xiu”, murmurou ele a Dandelion, tentando determinar se as pessoas no andar acima... espera, quem eram elas, afinal? Geralt não conseguia lembrar. Hmm, melhor deixar para lá, ele pensou.

Eles já foram embora, não foram? Provavelmente, as por que arriscar? Havia uma janela no porão onde um homem conseguiria passar e fugir facilmente. Havia algumas barras também, mas nada que um pequeno Aard não resolvesse. É só tomar cuidado... em silêncio... Praga! Que merda é essa?! Geralt balançou a cabeça, profundamente desnorteado. Enquanto isso, Dandelion estava tentando se levantar do chão inquieto, tropeçando nas próprias pernas.

A janela havia sumido, deixando um grande buraco em seu lugar.

Geralt olhou para a parede demolida da “Pequena Flor” do seu ponto de vantagem, em uma rua escura. O bruxo se perguntava como foi parar lá. Provavelmente alguma artimanha do Dandelion. Esse tolo sempre faz tudo em... Ah, ele trouxe o vinho consigo. Que homem maravilhoso.

Geralt aceitou a garrafa e, enquanto tomava um gole, ouviu os murmúrios constantes do poeta. Qual foi a melhor noitada dele? Que trovador de Cidaris? Ah, Dandelion, seu idiota. Ele era mais imbecil do que uma pedra. Isso não é a história de outro bardo, apenas as consequências desagradáveis do seu lado irresponsável.

O tempo passou pela cabeça do bruxo pela terceira vez. Onde eles estavam...? Geralt não conseguia se concentrar devido à tagerlice incessante do bardo. Ei, poeta! Deixe nossos ouvidos descansarem! E vinho! Mais vinho!

Tudo bem, tudo bem. Geralt acenou. Não se preocupe, eu respeito você. Dããã...! E eu també te amo como um irmão nessa porra!


Capítulo 9


DANDELION


Para a surpresa dele, Dandelion acordou não só em sua cama, mas também com uma bela garota ao seu lado. A circunstância deixaria acabaria em uma sequência prazerosa de eventos se não fosse pela dor de cabeça tão intensa quanto a manhã anterior. Os eventos das escapadas noturnas com o seu novo compatriota bruxo permanecem nebulosas, no melhor dos casos. Para a sua tristeza, o seu alaúde não estava em lugar algum entre os pertences espalhados pelo chão. Enquanto ele procurava freneticamente o alaúde, os grandes olhos vermelhos da moça o encaravam de uma forma perturbadora: como se ela estivesse gostando de algo... demais.

Dandelion deu de ombros, subidamente se lembrando da parte mais crítica da conversa com o Geralt. O bruxo havia explicado resumidamente por que o bando de capangas estava seguindo eles. A partir dessas observações, ficou claro que eles deveriam fazer o possível para deixar a cidade o quanto antes. Ainda interessado em estar bem longe dos portões de Gulet, ele se encontrava em uma câmara da casa do prefeito, com a companhia da dama de olhos verdes, com uma sensação estranhamente familiar... A resposta ao dilema, pensou ele, estava por trás do olhar dela, algo que agora havia se tornado em um sorriso preocupante que arrepiava toda a sua garganta.

Não vendo nenhuma outra solução, Dandelion finalmente decidiu perguntar sobre o alaúde e questionar por que ela sorria tanto.


GERALT


Para a sua surpresa, Geralt acordou na sujeira dos estábulos diretamente sob o olhar atento de Carpeado. Essa circunstância poderia ser considerada normal para ele, se não fizesse com que se sentisse tão miserável, como se tivesse perdido a resistência natural a toxinas. Os eventos da noite anterior eram um borrão que exigia esforço considerável para que conseguisse se lembrar. A parte mais inesperada? Ele estava com o alaúde do Dandelion debaixo do braço. Quando o bruxo olhou com mais atenção, a expressão cega de Carpeado se tornou estranhamente humana e cheio de reprovação: como se o cavalo estivesse o culpando de voltar tarde, bêbado e ...

Geralt balançou a cabeça, lembrando-se subitamente das conquistas noturnas com Dandelion, principalmente uma parte idiota da conversa deles. O bardo havia mudado do assunto dos irmãos furiosos para o amor de uma irmandade com muita facilidade. Apesar disso, em algum lugar entre bater um nas costas do outro e berrar com vigor que as amizades masculinas valem mais do que casos amorosos, eles concordaram em deixar a cidade juntos. No entanto, algo diferente havia acontecido. Algo infeliz. Droga... Junto com as memórias, o bruxo foi tomado por uma vontade intensa de deixar Gulet. Carpeado agora não só estava olhando para ele, como também bufava com repreensão.

Suspirando profundamente, Geralt finalmente se levantou, escondeu o instrumento nos alforjes do cavalo e voltou para encontrar o músico infantil, o mentiroso poeta, um idiota infeliz.


Capítulo 10


DANDELION


Casamento.

Um casamento estava para acontecer, um em que o noivo, chamado Dandelion, tinha acabado de descobrir pela futura esposa que aconteceria. Ele também finalmente descobriu seu nome, Kora. É o mínimo que ele deve saber antes de se casar...

Kora, repetiu o poeta em seus pensamentos. Muito bela, ele pensou enquanto tentava se confortar, sentindo o laço do casamento com o “felizes para sempre” apertando o seu pescoço. O casamento, para torná-lo ainda mais aterrorizante, aconteceria naquele dia, junto com o segundo dia do festival. Algo que, aparentemente, parecia ser nada menos que uma enorme festa de casamento. Supostamente, Kora se casaria com outro rapaz. No entanto, um comerciante, até mesmo um rico, nem se compara com um aristocrata, suspirou Julian Alfred Pankratz, Visconde de Lettenhove, mais conhecido como Dandelion. Ele não conseguia lembrar de quando havia descoberto este título. O nobre poeta nem se lembrava de ter feito o pedido de casamento, mesmo tendo a impressão de que nunca pediu. O noivo anterior de Kora deveria ser um homem velho que fede a peixe ou a qualquer mercadoria que vende. E certamente não era generoso, escolhendo um casamento em grupo em vez da cerimônia pessoal pristina. Por isso que a pobre garota foi atrás de um parceiro mais digno e mais adequado logo de cara. Aristocrata, em vez de ganancioso — como os pais dela ficariam orgulhosos. Os irmãos finalmente se acalmariam e o suposto esposo poderia sair de cena silenciosamente.

O casamento perfeito.


GERALT


Funeral.

Deve ser um funeral, Geralt tinha certeza, principalmente considerando as notícias felizes que havia ouvido no mercado. Alguém já tinha espalhado os rumores de uma rivalidade entre uma certa jovem chamada Kora e o Visconde de Lettenhove...

Será que foi a mesma moça que, por mais improvável, encontrou eles no meio da noite? Gritando com Dandelion pela desgraça que sofreu? O bardo, obviamente, rapidamente recorreu a doces mentiras, prometendo que pagaria pelos danos causados. Quando ela recusou a se acalmar, ele mostrou um título nobre, que era provavelmente outra mentira. Todavia, a jovem Kora se animou imediatamente, encerrando prontamente as acusações e as ameaças de não só chamar os irmãos, mas os guardas da cidade também. Uma pobre ameaça, mas eles estavam particularmente bêbados e afetados naquela noite. Portanto, Dandelion foi com ela, deixando com o bruxo seu alaúde para protegê-lo e dar a garantia de que voltaria quando a dama dormisse. Agora, Geralt tinha uma forte suspeita de que Kora, que havia saído da cama para conversar com viajantes e sabe-se lá com quem mais. Sua família provavelmente já havia mudado os planos da comemoração anteriormente planejada, sem estar ciente de que um pobre artista estava substituindo um comerciante rico. Geralt sabia que a verdade sobre o noivo seria revelada inevitavelmente. Seus irmãos ficariam irritados e o suposto esposo se encontraria com o executor.

Um funeral breve.


Capítulo 11


DANDELION


Dandelion esperava que as notícias do casamento não se espalhassem, facilitando o cancelamento de toda a cerimônia. Ao abrir a porta para deixar o quarto, o prefeito de Gulet apareceu e logo encheu o jovem casal de parabéns, rapidamente enterrando as breves expectativas do bardo. Os servos que passavam mal conseguiam esconder os sorrisos enquanto trabalhavam nos preparos antes de partirem. No entanto, esperando do lado de fora, para a desgraça dele, havia um comitê receptivo: os quatro irmãos de Kora massageando seus punhos. Eles concordaram graciosamente em não encher o visconde de piche e serragem, não muito diferente do que um bife de porco com farinha e ovo, contanto que ele cumprisse as palavras e se juntasse à família. Eles graciosamente ofereceram ajuda para proteger a novo castelo da família, que, como um visconde, qualquer um espera um castelo. Dandelion engoliu em seco. De onde diabos ele conseguiria criar um castelo? Na verdade, não importava o que esses idiotas de meia-tigela esperavam. Ele não pretendia ficar por muito tempo para que as coisas chegassem a esse ponto. O verdadeiro problema era: onde foi parar o alaúde?!

O prefeito montou mesas cheias de comida, cercadas de músicos de segunda categoria. Em uma das extremidades, havia um portão de casamento feito de flores e heras, onde os votos seriam em breve trocados. Além disso, a praça do mercado principal estava sendo preparada para a grande primeira dança comemorativa.

Dandelion se endireitou, subitamente interessado nas palavras da autoridade.

A cerimônia estava prestes a começar.


GERALT


Geralt esperava que o funeral não acontecesse se ajudasse o bardo a escapar. O bruxo não tinha a menor dúvida sobre a eventualidade da tentativa de fuga de Dandelion das breves núpcias. Portanto, foi até a casa do prefeito onde esperava encontrar o poeta de ressaca junto com a sua em breve esposa. Nos portões da propriedade, no entanto, ele viu rostos familiares: uma verdadeira festa de casamento liderada pelo próprio prefeito. Parecia que o jovem noivo havia agradado os irmãos dela. Geralt preferiu não adivinhar o que ela havia prometido a eles, optando por permanecer-se o mais distante o possível. Uma certa noite de laços embriagados não o obrigou a resgatar o poeta, lembrou o bruxo. As declarações feitas em tal estado não são verdadeiras, repetiu ele enquanto dava o primeiro passo em direção aos estábulos. Mas então, Geralt lembrou do alaúde escondido dentro dos alforjes. Suspirando profundamente, ele deu meia-volta.

O bruxo não arriscaria ser preso por começar uma briga para libertar Dandelion, mas certamente não faria mal esperar uma boa oportunidade para ajudá-lo, certo?

Infelizmente, tanto a noiva quanto os irmãos não deixaram Dandelion por um segundo sequer. Enquanto isso, o prefeito assumiu o papel de anfitrião gracioso, mostrando aos hóspedes o festival e explicando os rituais locais, tudo sem estar ciente da situação tensa.

Geralt seguiu um pouco distante, bisbilhotando até ver o momento evidente em que o bardo faria a sua parte.


Capítulo 12


DANDELION


Dandelion dançou.

Ele dançou com todo o seu vigor. Seguindo as tradições de Gulet, o noivo era encarregado de resgatar sua noiva presa no meio de uma multidão intensa de pessoas dançando. Só assim a cerimônia de casamento podia finalmente começar. O bardo, em seu direito, viu a ocasião como uma última oportunidade de fugir do daquela situação. Infelizmente, seus possíveis cunhados compartilhavam do mesmo pensamento. Eles haviam bloqueado antecipadamente a possível rota de fuga no intuito de forçá-lo a ir atrás da irmã deles, Kora.

Dandelion não seria detido tão facilmente. Todos os participantes dançavam fervorosamente enquanto se esbarravam. Felizmente, isto era para impedi-lo chegar à noiva. Uma música agitada tomava o local e o mundo parecia girar ao seu redor. No entanto, o bardo encontrou um ritmo para a loucura e prosseguiu dançando para sair de lá.

Ele passou pelo primeiro dos irmãos com algumas curvas precisas. Ele sorriu, esbarrando no segundo irmão, que acabou tropeçando desajeitadamente. Já no terceiro, ele o puxou pela mão, girando em uma pirueta apenas para soltá-la na hora certa para fazer com que ele perdesse o equilíbrio. O quarto irmão foi o mais difícil. Dandelion pulou para a direita, pulou para a esquerda, deu uma volta e o seu par reagiu aos movimentos como se fosse um espelho. O poeta, entrnado em desespero, decidiu expermientar um truque simples, dando um passo para trás. O tolo també recuou e, assim, Dandelion continuou recuando até finalmente dar as costas e fugir. Conforme ele desaparecia por trás do celeiro mais próximo, ele escutou o grito desesperado de Kora mas não arriscou olhar para trás.

Agora era a sua chance de ser livre, mas, antes, o poeta precisava encontrar o seu precioso alaúde. Assim, ele começou a perambular pelos becos de Gulet à procura do bruxo, sentindo-se arrependido e abandonado. Em uma tentativa de desespero, ele foi até o estábulo na esperança de que Geralt não tivesse partido daquela cidade medíocre. Ele deu um berro miserável ao ver que o cavalo não estava lá, caindo de joelhos no chão e abaixando a cabeça. O bruxo, em sua montaria, havia partido com o alaúde do bardo. Dandelion estava mais uma vez sozinho, sem os seus pertences e injustamente punido pelo destino.

No ápice do seu desespero, uma sombra surgiu por trás dele. Uma sombra com um alaúde em uma mão e uma rédea na outra. Uma sombra com uma voz rouca de vodca, ordenando que o bardo largasse de ser trouxa e levantasse.

Dandelion virou, contente com sua grande sorte.

Ele conseguia sentir que este era apenas o início da grande jornada dos dois.


GERALT


Geralt não dançou.

Pelo menos, ele evitou ao máximo, já que navegar pela multidão diante ele exigia saltos precisos e empurrões. O bruxo estava novamente procurando por Dandelion, que fora devorado pelo tumulto assim que a tradição imbecil começou. Em vez disso, ele notou um comerciante próspero, porém velho aparentemente perdido quanto as ações da sua distante noiva. Sabe-se lá se ela contou ao pobre tolo sobre suas novas intenções.

Geralt avançou. Alguns dos cidadãos dançantes tentaram impedi-lo, apesar de não ter surtido muito efeito. A música ficou mais alta, impossibilitando qualquer conversa. Apesar dessa loucura, o bruxo finalmente conseguiu encontrar na multidão um chapéu distinto decorado com a pena de garça. Seu dono, sendo nenhuma surpresa para o bruxo, estava escondido por trás de quatro capangas familiares.

Sem querer perder muito tempo, Geralt empurrou o primeiro dos irmãos com todo o seu peso em direção à multidão, para longe de Dandelion. Em seguida, ele bateu no segundo, derrubando-o no chão, caindo logo à frente dos pés do poeta. Ele se encontrou segurando o pulso do terceiro irmão, enquanto o pardo realizava alguma de suas piruetas tolas e sem sentido. O bruxo encerrou o espetáculo chutando as as pernas do malfeitor, lançando-o de costas no chão. O quarto pareceu ter levado uma eternidade para o bruxo, principalmente por causa de Dandelion. O poeta agiu como um bobo da corte, tentando distrair seu inimigo antes de finalmente fugir. O capanga, que por um momento pareceu considerar persegui-lo, abruptamente deu as costas para dar atenção aos berros de Kora. Seu original pretendente abraçava a pobre garota de forma possessiva, com miséria evidente no rosto da dama solitária enquanto procurava na multidão um poeta salvador. Um poeta que, obviamente, não parecia estar em lugar nenhum. Enquanto isso, o bruxo, já cansado de ter se envolvido nos casos de terceiros, virou e encaminhou-se de volta para o estábulo.

Ele sorriu para si quando viu o bardo no chão. Dandelion estava ajoelhado dramaticamente, claramente inconsciente de que, se olhasse para a esquerda, veria o seu alaúde no alforje de Carpeado. Ainda sorrindo, Geralt apanhou o instrumento musical e ordenou que o tolo desajeitado se recomposse, encerrando o teatro miserável.

Um tempo depois, depois de se levantar e caminhar para os portões para deixar Gulet, ele olhou novamente para o bardo que agora o seguia. Era quase como se o destino quisesse que Dandelion se aventurasse com o bruxo, até os limites do mundo.

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